Ícone SICCAU
SICCAU Serviços Online

18/06/2020ㅤ Publicado às 15:05




Imagem: Joana França

Uma publicação em um dos mais populares sites de arquitetura do País levantou um debate a respeito da preservação do patrimônio arquitetônico moderno brasileiro. A residência José da Silva Netto, projeto de 1976 de João Filgueiras Lima (Lelé), um dos mais brilhantes arquitetos brasileiros, foi recentemente reformada e os principais atributos do projeto foram modificados na intervenção. Não obstante a residência não ser tombada ou não estar inscrita em nenhuma lista de patrimônio arquitetônico brasileiro, o projeto é (ou era) de grande relevância para a arquitetura brasileira.

Fotos da residência original foram feitas pela arquiteta e fotógrafa brasiliense Joana França, onde era possível perceber características marcantes como o “atirantamento” (suspensão estrutural) do pavimento superior aparente, marcado pelas grandes varandas que circundavam o pavimento pendurado e tornavam clara a solução estrutural. Os generosos espaços internos eram protegidos da insolação por essas varandas contínuas, que integravam desde a área íntima até a social. O concreto aparente em quase todas as superfícies da casa era outra característica importante do projeto, inclusive no teto, onde podia-se observar a ausência de forro de gesso em todos os ambientes. A caixa suspensa de concreto criava um térreo “vazio”, tão comum e tão valorizado nos blocos residenciais brasilienses, estendendo a varanda do pavimento superior a toda a área do solo. Esse vazio só é interrompido pela caixa revestida por azulejos de Athos Bulcão que abriga a área de serviço e cômodos técnicos. A permeabilidade espacial e visual dessa residência foram bastante aproveitadas por Lelé, ao explorar conceitos bastante utilizados na arquitetura brasileira e criar espaços residenciais palacianos característicos da arquitetura moderna feita na década de 60 e 70.

Boa parte dessas características não permaneceram na adequação atual. A reforma não infringiu nenhuma norma prevista pelo código de ética e exercício profissional feitos pelo CAU, porém, esse acontecimento ilustra o desconhecimento da nossa sociedade e de parte da nossa classe profissional sobre a importância da preservação do nosso patrimônio arquitetônico moderno.

As entidades de preservação devem urgentemente reanalisar seus parâmetros e atitudes para que ações de educação patrimonial sejam largamente divulgadas. O CAU/DF está empenhado em agir em prol desse patrimônio e criou no mês passado uma comissão temporária de patrimônio para avaliar e agir em prol da sociedade. A arquitetura moderna brasileira não é patrimônio apenas de arquitetos e urbanistas, mas de toda a sociedade e deve ser entendida como um bem cultural que precisa ser preservado! O profissional tem a obrigação de explicar ao cliente a importância de se intervir respeitosamente em obras que tenham relevância para a nossa história, ainda que não estejam sob a égide de um título patrimonial formal, seja uma casa, um edifício residencial, um hospital ou qualquer outro prédio público.

O respeito à arquitetura moderna brasileira deve começar por nós!


  • Artigo de autoria do presidente do CAU/DF, arq. Daniel Mangabeira

GALERIA DE FOTOSPROJETOS DO LELÉ Imagens de Joana França

DEIXE UM COMENTÁRIO

Os comentários estão desativados.

Destaque

10/02/2025

Atendimento presencial interrompido esta semana

Destaque

06/02/2025

SESC e IAB-SP anunciam realização de concursos para projeto de arquitetura

Destaque

05/02/2025

Atendimento presencial interrompido nos dias 5 e 6 de fevereiro

Destaque

04/02/2025

CAU/DF passa a usar carro elétrico em suas fiscalizações